Artistas com deficiência que participam do Terceiro Mercado das Indústrias Criativas do Brasil (MICBR) em Belém, no Pará, querem estimular o convívio entre eles para inclusão no mercado criativo. O encontro termina neste domingo (12).
O cearense João Paulo Lima, da área de dança e ativista dos direitos das pessoas com deficiência, ressalta a importância de pensar a acessibilidade não como um produto, mas como um direito humano.
“O grande desafio é perceber a acessibilidade como um direito humano, para todos. Ela facilita a relação de pessoas com e sem deficiência, de entendimento da política, da arte, da cultura em si. A luta precisa ser em conjunto”. Para ele, defender a acessibilidade a essas políticas de editais, de espaços e inserir as pessoas com deficiência é necessário para melhorar a inclusão”, afirma.
João Paulo Lima lembra que o preconceito nunca vai deixar de ser uma barreira, que se soma à falta de recursos – até porque dependendo da deficiência é preciso recurso diferenciado.
Ariadne Andico, que vive no interior de São Paulo, tem paralisia cerebral e trabalha com a atividade de palhaço. Ela conta que foi convidada, pela primeira vez, para falar sobre seu processo criativo no MICBR. Para ela, é fundamental a convivência, o encontro acessível para todos, pessoas com e sem deficiência.
“É uma mudança de perspectiva, que parte de uma pessoa que convive com artistas com deficiência, então é pequena, ainda há muito chão para afirmar que é uma mudança. É uma fagulha de mudança, porque é muito necessário ainda falar sobre [pessoas com deficiência]. Eu entendo o fato de a gente ser convidado sempre para falar sobre a deficiência porque a gente está neste momento de processo de mudança, ao mesmo tempo de convivência. Acredito muito no encontro como possibilidade de transformação. E nesse sentido estou feliz demais de ocupar esse espaço, mesmo frente às limitações. É muito gostoso estar falando da minha arte e não só da minha deficiência”.
Invisibilidade
Socorro Lima, professora, pesquisadora e artista da dança de Belém (PA), tem deficiência visual. Ela diz que mesmo que as pessoas com deficiência estejam produzindo, ainda há grande invisibilidade do segmento.
“A gente é invisível, como se não existisse. Não tem um olhar como pessoas mesmo. E somos pessoas capazes. Temos a nossa história, os nossos trabalhos, nossos projetos. Mas não somos vistas como pessoas e sim como empecilhos, como o que dá trabalho”, afirma Socorro.
MICBR
Os artistas com deficiência reclamaram da pouca acessibilidade do MICBR, realizado no Centro de Convenções do Hangar, em Belém, o maior da capital paraense. O Ministério da Cultura afirma que a mesa de debate sobre acessibilidade foi realizada com objetivo de escutar as pessoas.
Andrea Guimarães, diretora de Desenvolvimento Econômico da Cultura do ministério, afirma que houve preocupação da organização do evento de se preparar para receber as pessoas com deficiência.
“Reconhecemos que há um processo de melhorar essas questões, mas existe uma lacuna. Os espaços não são construídos pensando nisso, às vezes eles são adaptados posteriormente. Nossa intenção de trazer uma mesa de debates, trazer essas pessoas, de dar voz, é justamente nos prepararmos para recebê-las cada vez melhor”, diz Andrea.
Segundo o ministério houve avaliação para prever as necessidades específicas das pessoas com deficiência no evento, reuniões com o Centro de Convenções Hangar para analisar as condições de acessibilidade, como elevador, rampas, espaços adaptados e tradução de libras, por exemplo.
*O repórter viajou a convite do Ministério da Cultura.
Fonte: Agência Brasil
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