17 de dezembro de 2024

Jutan Araújo

Sem Meias Verdades

Pandemia e insegurança levam ao fechamento de lojas em São Paulo

Na tradicional Rua Barão de Itapetininga, no centro da capital paulista, e em muitas outras no calçadão, dezenas de estabelecimentos comerciais foram fechados. Por toda a parte, portas abaixadas, placas de “aluga-se”, pouco movimento na rua e comerciantes desanimados.

Lojas abertas deram lugar a placas de “aluga-se” na região central de São Paulo – Frame TV Brasil/Agência Brasil

Proprietário de uma banca de revistas desde 1986, Paolo Pellegrini avalia que este é o pior momento. “Hoje é uma rua com 80% abertos e 20% fechados. É muita coisa num trecho tão curto”, disse à TV Brasil.

O Edifício João Brícola é um prédio icônico do começo do século passado. Ele abrigou a primeira loja de departamentos do Brasil. Outras lojas vieram depois. A última ficou neste mesmo prédio por 19 anos, mas fechou no mês passado.

“Era um comércio muito bom, ocupava quase todos os andares aqui e era muito bom. Procurava de tudo e achava aqui. Parecia um shopping”, relembrou a vigilante Edneide Dias.

Outras ruas importantes do comércio popular de São Paulo seguem na mesma direção. Na Rua José Paulino, tradicional rua de roupas femininas, as lojas continuam abertas, mas o movimento está bem abaixo do que já foi. “Caiu bastante o movimento. Todos aqui estão falando a mesma coisa”, aponta a vendedora Solânia Silva.

São Paulo (SP), 12/04/2023 - Prédio antigo na esquina da rua Aurora com Santa Ifigênia, no centro da capital. Entidades que realizam trabalhos sociais na região da Cracolândia, no centro da capital paulista, estão pedindo para que o governo federal assuma a implementação de programas para o atendimento dos dependentes químicos que vivem no território. Segundo as entidades, os projetos da prefeitura e do governo do estado de São Paulo não estão dando resultado e acumulam denúncias de violações de direitos humanos. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Comerciantes da Rua Santa Ifigênia dizem que movimento na região caiu nos últimos anos – Rovena Rosa/Agência Brasil

Outra rua emblemática do comércio é a Rua Santa Ifigênia, voltada para a venda de eletrônicos. Lojas abertas também, mas com bem menos consumidores. “Três anos atrás era 100% do movimento, agora 60%, 70% e olhe lá”, avaliou o vendedor João Carlos Costa.

Assista à reportagem da TV Brasil:

Cenário

Uma das explicações para esse cenário é a grave crise econômica causada pela pandemia que contribuiu para o fechamento de muitas lojas e deixou milhares de pessoas vivendo nas ruas de São Paulo. Hoje, segundo o levantamento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), são 52 mil pessoas em situação de rua. Outra explicação são os constantes roubos e furtos especialmente de celular nas ruas do centro.

Para o urbanista Aluízio Marino, coordenador do Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (Labcidade), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), outro grande problema são as políticas públicas mal sucedidas voltadas aos dependentes químicos da Cracolândia, que pulverizaram essa população para todo o centro.

“Essa política está sendo permanente. Antes a gente tinha uma dispersão que depois, em algum momento, voltava para algum lugar. Então essa política permanente de manter a dispersão, no caso especificamente desse território da Luz, Santa Ifigênia, Campos Elíseos, tem transformado esse território em um barril de pólvora”, apontou.

Para ele, a solução demanda menos polícia e mais ações para moradia, cuidados e combate ao tráfico.

“Operar o combate ao tráfico em uma escala que não é a escala ali do local ou, pelo menos, não apenas a escala ali do local. E, ali no território, precisa ter uma ação conjunta e forte do Estado para pensar políticas de moradia e de cuidado”, acrescentou.

Plataforma

Na quinta-feira (13), o governo paulista lançou uma plataforma com um diagnóstico das ações de segurança e crimes cometidos na região central da capital paulista, em especial nas áreas de uso de entorpecentes, conhecida como Cracolândia.

A ferramenta já estava em uso desde março pelos agentes de segurança. “O objetivo é facilitar a identificação dos hot spots criminais e a definição de ações para enfrentar a criminalidade para que os resultados obtidos sejam mais assertivos e eficientes”, informou o governo em nota.

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) espera que o sistema democratize o acesso a informações na região central, tendo em vista que ela está disponível para toda a população. O diagnóstico será atualizado semanalmente com os registros dos roubos e furtos, além das respectivas ações policiais.

Agência Brasil